quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cavaco e "nós é que mandamos"

“Só o governo ou a Assembleia da República é que podem incluir essas matérias [alteração da legislação laboral] na agenda política portuguesa e, quanto sei, até este momento ninguém a colocou. (...)   “nenhuma entidade exterior pode colocar matérias dessas na agenda portuguesa, ninguém pode".
Presidente da República, ontem, sobre as recomendações e afirmações (insensatas, digo eu) do comissário europeu, assunto sobre o qual escrevi aqui
 
Há anos que a Comissão Europeia faz estes considerandos, tipo ladainha. A diferença, que pode ser substancial, é que desta vez Olli Rehn mostrou que não sabia do que estava a falar ao pedir, além da habitual reforma do mercado laboral, reformas na segurança social, metendo Portugal no mesmo saco que a Grécia. Para depois reconhecer que não o podia fazer.
 
As palavras do Presidente só podem revelar que atrás do pano da vida que vemos na União Europeia estão a desenvolver-se movimentos complexos, para não dizer graves.
Vivemos tempos perigosos.

Vale a pena ler

A entrevista com Teresa Ter-Minassian no Negócios (só em papel), a então directora do FMI que liderou as equipas do plano de estabilização no ano de 1983 em Portugal.
Ali defende Teresa Ter-Minassian que Portugal devia adoptar já medidas preventivas em matéria de financiamneto da economia para enviar aos mercados a mensagem: não precisamos de vocês no curto prazo. O que significa, aderir já ao fundo de ajuda europeu - até porque, alerta, os tais 750 mil milhões de euros podem não chegar se a Espanha também precisar deles.

O Governo já disse nem pensar recorrer a ajuda, pela voz do secretário de Estado do Tesouro.

O artigo de Martin Wolf no FT com o alerta para os riscos de deflação. Também indisponível na rede grátis, lembra o que se passou no Japão para moderar as fúrias de redução do défice público na Europa.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Vale a pena ler

Jeffrey Sachs hoje no Financial Times (sem link aberto):
Cinco recomendações de política económica, entre elas: os governos devem explicar à opinião pública e esta deve aprender que a política económica pouco pode fazer no curto prazo para gerar empregos de elevada qualidade; os investimentos públicos devem ser orientados para transformações estruturais a longo prazo, entre os quais se contam os "projectos verdes" como os associados à energia; os governos devem criar apoios sociais, sistemas de saúde e investir em educação; e os governos devem aumentar os impostos sobre os rendimentos mais elevados - e di-lo com a brutalidade de afirmar que têm de ter coragem para tributar quem lhes paga as campanhas.

Um diagnóstico:
"O facto relevante é que os Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda, Espanha e Grécia [junto Portugal] sobreendividaram-se durante décadas, pelo que a queda no consumo não é uma anomalia que se deva combater mas sim um ajustamento que se deve aceitar"

E uma frase que sintetiza genialmente os limites actuais da política orçamental (que não existiam quando os mercados financeiros eram menos sofisticados, nos anos30 do século XX):
"(...) o resultado da política orçamental depende não apenas dos impostos e das despesas actuais mas também do que se espera que venham a ser no futuro".

Acrescento que a única política que pode impedir uma depressão é a monetária, moderada com os olhos no risco de inflação.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

As férias, o mendigo e o vizinho dele

O Presidente da República pediu aos portugueses para passarem férias cá dentro e não no estrangeiro:
"Aqueles que podem passar férias, devem fazê-lo cá dentro para ajudar Portugal a vencer as dificuldades atuais, pois passar férias cá, é criar emprego, combater o desemprego e ajudar à melhoria das condições de vida dos portugueses (...) Ajudar é reduzir o sofrimento daqueles que não conseguem entrar no mercado de trabalho ou que perderam o seu posto de emprego e encontram dificuldade em recuperar um outro... (...) passar férias cá dentro, nesta altura difícil, é também uma atitude patriótica."

O ministro da Economia Vieira da Silva respondeu em Xangai desejando que os preisdentes dos outros países não fizessem o mesmo tipo de apelo:
“Só espero que outros chefes de Estado de outros países não façam o mesmo apelo senão perderemos um fonte importante de divisas em Portugal”

O Presidente da República voltou hoje a reafirmar o que disse afirmando:
"(...)férias passadas no estrangeiro são importações e aumentam a dívida externa portuguesa(...)


O que leva um Presidente da República que é economista a usar uma política que é condenada por tudo quanto estudou sobre economia?
Crescer "comendo" crecsimento aos outros é em economia conhecido como políticas de "beggar thy neighbour". E Vieira da Silva ilustrou bem os seus efeitos perniciosos - se os cidadãos de todos os países fizerem o que Cavaco Silva disse aos portugueses para fazerem, além de todos crescerem menos, países que dependem mais do turismo serão aind amais castigados que os outros.

As políticas de crescimento por "comer à conta do vizinho" têm como resultado todos ficarem pior e deram muito maus resultados nas anteriores recessões - alguns economistas consideram que a crise de 1929 poderia ter sido menos grave se não se tivessem aplicado políticas proteccionistas.
Vale a pena ler The protectionist temptation: Lessons from the Great Depression for today

Na actual crise vários países na Europa e na América do Norte têm, mais ou menos discretamente, usado a arma do proteccionismo.
Já assistimos ao "Buy American" e "British jobs for British workers" comentado criticamente por Buiter
Ainda recentemente os franceses avançaram com uma campanha "compre francês" e é possível encontrar na versão em inglês do Der Spiegel argumentos a favor do proteccionismo (não encontrei o link).

Cavaco Silva como Vieira da Silva sabem bem tudo isso. O que leva então o Presidente a fazer um apelo tão perigoso? O facto de sermos um pequeno país? Um grande mendigo viver à custa do vizinho não tem o mesmo efeito que um pequeno mendigo viver à custa do vizinho? (Para não falar das violações do Mercado ùnico, mas quem não as pratica que atire a primeira pedra)

Há outros argumentos a favor. Como os de Paul Krugman e João Rodrigues. Assim como o apoio que em geral a opinião pública dá ao proteccionismo, como se vê neste barómetro passado do Negócios - embora possa praticar pouco.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O dito Mercado também é assim

PT sobe 32% desde a primeira oferta da Telefónica pela compra da Vivo
  1. É o grande valor que hoje tem ter dinheiro vivo?
  2. Mesmo sabendo que a nova PT - depois de vender a Vivo - atirará para as calendas a ambição de ser uma empresa de nível global.
  3. Mesmo sabenod que com a venda da Vivo a PT terá menos capacidade de gerar valor.
(Estes são momentos em que nos lembramos de como de grande sdescobridores nos tornámos tão pequenos e dependentes, como o porque nunca conseguimos ser como o Reino Unido)

Uma Nação endividada III

A Cimpor foi vendida e com ela
a Teixeira Duarte encaixou cerca de mil milhões de euros, pela venda à Camargo Corrêa a 6,5 euros por acção pelos 22,45% que detinha na empresa.

A PT está a caminho de vender a Vivo, o tal activo estratégico e que gerou mais uma daquelas ondas nacionalistas que antecedem as vendas a empresas espanholas - ah quantas vezes já vimos disto. Para já, com o trá-lá-lá publico de accionistas de referência e dos gestores conseguiram aumentar a oferta me 800 milhões de euros. Vamos ver se conseguem mais.
Para já estamos a falar de muito dinheiro. É fazer as contas: se por hipótese todo o encaixe de 6,5 mil milhões de euros for distribuído - esperemos que se consiga ter a sensatez de não o fazer, comprando um novo activo - alguns accionistas de referência vêm os seus problemas de falta de financiamento moderados. Como o BES que detém quase 8% da PT ou a CGD com 7,3%.

Depois da Cimpor e da PT vamos ver o que se segue
As dívidas também se pagam assim