terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A recessão à porta

A economia portuguesa está a crescer cada vez menos desde o quarto trimestre de 2007.

Apesar disso, o Governo insistiu no discurso do "vai tudo bem". E sem nunca dizer que iríamos escapar da recessão foi dizendo, a cada momento e agarrando-se à parte meio cheia do copo, "escapámos à recessão" - assim foi quando o INE divulgou a sua estimativa rápida para o PIB.

Hoje o INE divulgou os números com mais informação e regista-se uma quebra da produção no terceiro trimestre face ao segundo. É marginal. Mas os números que determinaram essa queda antecipam o pior: o investimento caiu e as exportações estão a abrandar.

Mais, os números mais recentes das exportações apontam para uma queda nas vendas para os países da zona euro (menos 1,1% entre Julho e Setembro deste ano, face a igual período de 2007) - como se esperava com a Alemanha e a Espanha em recessão.
Portugal vai, infelizmente, terminar o ano em recessão. E se nada mudar no quadro internacional, especialmente nos mercados de crédito e de capitais, o primeiro semestre do próximo ano vai ser muito difícil.

Há pouco dias o Governo mudou de discurso. Passou a ter declarações mais ajustadas à realidade. O que os números de hoje do INE revelam é que, enquanto o Governo - primeiro-ministro, ministro das Finanças e ministro do Trabalho - tiveram o discurso de "estamos a resistir" já muitos portugueses estavam em dificuldades.

Gerir expectativas assim desacredita os líderes. E nestes tempos difíceis, os portugueses precisam mais do que nunca de líderes.

O início do século XXI não tem sido generoso para Portugal.

3 comentários:

Anónimo disse...

Se em vez de dizer "está tudo bem", disse-se "vamos travar antes da curva", isto é, cortar nas importações, ajustar os grandes investimentos à realidade que se aproxima, tentar ser mais produtivos e começar a gerir os nossos recursos de uma forma mais inteligente. Mas não, dis-se que está tudo bem, dá-se cursos que não servem para nada para ajustar numeros, manten-se os incompetentes onde podem ir fazendo estragos. E os srs. jornalistas (maioria)? Têm sido isentos? Estão a fazer o trabalho de casa atempadamente, com rigor em prol da maioria (povo pagante)? Ou apenas são porta-voz dos intresses políticos?

Anónimo disse...

Este comentário é referente ao seu texto de hoje no Jornal de Negócios e a algumas reacções ao mesmo.
Muito bom artigo. Este artigo não explica mas pede explicações a quem as tem que dar. Parece-me que todos ficamos a saber mais dos casos BPP e BPN pela crónica do prof. Rebelo de Sousa do que pelos comunicados do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças. Acho que muitas pessoas só procurarão resolver as dificuldades em outro sítio que não as eleições se se convencerem de que para ter bons ordenados o fazer pela vida e trabalhar honestamente não são suficientes ou, dito de outra maneira, de que alguns ganhem mais do que bons ordenados sem terem feito por os merecer ou, pior, mesmo à custa de quem os merece. A leitura das declarações de João Talone a propósito de elites e a quantidade e teor dos comentários que recebeu ajudam a compreender isto um pouco melhor.

Helena Garrido disse...

Muito obrigada